Você costuma ler livros escritos por mulheres? Se a resposta for não, vale fazer uma reflexão, pois, apesar dos avanços significativos, elas ainda enfrentam desafios, incluindo a falta de representação equitativa, o reconhecimento profissional e as barreiras de gênero, como destaca a Editora Viseu.
Portanto, para celebrarmos o Dia Internacional das Mulheres, que aconteceu no dia 08 de março, e o Dia da Poesia que ocorrerá no dia 14 deste mês, separamos cinco mulheres poetas que marcaram a literatura brasileira.
Cecília Meirelles
Escritora, jornalista, professora e pintora, Cecília Meireles nasceu em 1901 e é considerada uma das mais importantes poetisas do Brasil.
Segundo o site Toda Matéria, suas obras são marcadas por forte influência da psicanálise com foco na temática social. Além disso, é conhecida por sua poesia delicada e emotiva sobre temas como infância, amor e natureza.
Recebeu diversos prêmios pelo trabalho realizado na literatura, como: Prêmio de Poesia Olvao Bilac, Prêmio Jabuti, Prêmio Machado de Assis, entre outros.
A Casa da Moeda, em 1989, fez uma homenagem e colocou seu rosto na nota de 100 Cruzados Novos.
Confira, a seguir, um dos poemas da escritora:
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
Dora Ferreira da Silva
Poeta e tradutora, Dora Ferreira da Silva nasceu em 1918. Seu primeiro livro de poesias foi Andanças, publicado em 1970. Se dedicou ao longo da vida aos gêneros da poesia e do ensaio.
De acordo com o site do Memorial da América Latina, a vocação poética surgiu na infância, por meio das leituras na biblioteca de poesia de seu pai. Entretanto, Theodomiro Ribeiro morreu quando Dora tinha um ano de idade.
Se casou aos 19 anos com o filósofo Vicente Ferreira da Silva e o casal, ao lado de Milton Vargas, fundou a revista Diálogo.
Dora recebeu três prêmios Jabuti pelos livros Andanças, Poemas da Estrangeira e Hídrias, a Menção Honrosa PEN CENTRE por Talhamar, e o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pela publicação da Poesia Reunida.
Leia, a seguir, um dos poemas de Dora:
Mulher e Pássaro
Voltamos ao jardim
ao banco lavado pela chuva.
Pedimos o verde ao verde
a flor à flor
sem quebrar-lhe a haste. Bastaria a manhã.
(Nossa presença
desalinha ar e folhas
num frêmito.)
Mas se nada pedimos
como quem dorme seguindo a linha natural
do corpo
respiramos o puro abandono:
um pássaro alveja o azul (sem par)
ultrapassa o muro do possível
e assim damos um ao outro
a súbita presença
do Céu.
Cora Coralina
Ana Lins dos Guimarães Peixoto, conhecida como Cora Coralina, foi uma poeta e contista brasileira, nascida em 1889.
O site Ebiografia destaca que, apesar de ter cursado apenas até a terceira série do curso primário, a escritora começou a escrever poemas e contos com 14 anos de idade. Entretanto, apenas em 1965, com 75 anos, conseguiu realizar o seu sonho de publicar o primeiro livro “O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais”.
Em 1970, tomou posse da cadeira n.º 5 da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás. Além disso, nos últimos anos de vida, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da UFG. E, em 1984, foi nomeada para a Academia Goiana de Letras, ocupando a cadeira n.º 38.
Cora Coralina conquistou o “Prêmio Juca Pato” da União Brasileira dos Escritores como intelectual do ano de 1983, com o livro “Vintém de Cobre: Meias Confissões de Aninha”.
Veja uma das obras de Cora:
Becos de Goiás
Becos da minha terra…
Amo tua paisagem triste, ausente e suja.
Teu ar sombrio. Tua velha umidade andrajosa.
Teu lodo negro, esverdeado, escorregadio.
E a réstia de sol que ao meio-dia desce fugidia,
e semeias polmes dourados no teu lixo pobre,
calçando de ouro a sandália velha, jogada no monturo.
Amo a prantina silenciosa do teu fio de água,
Descendo de quintais escusos sem pressa,
e se sumindo depressa na brecha de um velho cano.
Amo a avenca delicada que renasce
Na frincha de teus muros empenados,
e a plantinha desvalida de caule mole
que se defende, viceja e floresce
no agasalho de tua sombra úmida e calada…”
Carolina Maria de Jesus
Nascida em 1914, Carolina Maria de Jesus, apesar de ter apenas dois anos de estudo formal, tornou-se escritora e ficou nacionalmente conhecida em 1960, com a publicação de seu livro Quarto de Despejo: diário de uma favelada, de acordo com o site Brasil Escola.
Quarto de Despejo destaca as memórias de uma mulher negra na periferia, e que via a escrita como forma de sair da invisibilidade social em que se encontrava.
No mesmo ano, a autora recebeu homenagens da Academia Paulista de Letras e da Academia de Letras da Faculdade de Direito de São Paulo, além de receber um título honorífico da Orden Caballero del Tornillo, na Argentina, em 1961.
A poeta também recebeu uma homenagem concedida pelo Ministério da Cultura com o prêmio Carolina Maria de Jesus que impulsiona trabalhos literários produzidos por mulheres.
Confira uma das poesias da escritora:
A Rosa
Eu sou a flor mais formosa
Disse a rosa
Vaidosa!
Sou a musa do poeta.
Por todos sou contemplada
E adorada.
A rainha predileta.
Minhas pétalas aveludadas
São perfumadas
E acariciadas.
Que aroma rescendente:
Para que me serve esta essência,
Se a existência
Não me é concernente…
Quando surgem as rajadas
Sou desfolhada
Espalhada
Minha vida é um segundo.
Transitivo é meu viver
De ser…
A flor rainha do mundo.
Conceição Evaristo
Em 1946 nasceu Conceição Evaristo, importante escritora brasileira. Seus contos, romances, poesias e ensaios tratam de questões ligadas à ancestralidade e afrobrasilidade.
Segundo o site Toda Matéria, antes de se formar em Letras pela UFRJ, trabalhou como empregada doméstica até 1971.
Iniciou na literatura a partir dos anos 90. Na mesma década, se tornou mestra em Literatura pela PUC/RJ com a dissertação Literatura Negra: uma poética da nossa afro-brasilidade. Em 2011 conclui doutorado na UFF com a tese Poemas Malungos – Cânticos Irmãos.
Ganhou do prêmio Jabuti de Literatura de 2015, na categoria Contos e Crônicas, por Olhos D’Água. Recebeu, também, os prêmios Faz a Diferença – Categoria Prosa, de 2017; Prêmio Cláudia – Categoria Cultura, de 2017; e o prêmio de Literatura do Governo do Estado de Minas Gerais, de 2017.
A seguir, leia um de seus trabalhos:
Menina
Menina, eu queria te compor
Em verso,
Cantar os desconcertantes
Mistérios
Que brincam em ti,
Mas teus contornos me
Escapolem.
Menina, meu poema primeiro,
Cuida de mim.
Agora que você conheceu um pouco mais sobre essas cinco mulheres, vale a pena incluí-las em sua estante. É importante ressaltar que, durante todo o ano, as mulheres merecem reconhecimento e direitos assegurados. Feliz Dia Internacional das Mulheres e Feliz Dia da Poesia.